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Um caminho para as casas espíritas

Ronaldo M. Lopes

"A casa dos apóstolos, em Jerusalém, apresentava um movimento de socorro aos necessitados cada vez maior, requerendo vasto coeficiente de carinho e dedicação. Eram loucos a chegarem de todas as províncias, anciães abandonados, crianças esquálidas e famintas. Não só isso. À hora habitual das refeições, extensas filas de mendigos comuns imploravam a esmola da sopa. Acumulando as tarefas com ingente sacrifício, João e Pedro, com o concurso dos companheiros, haviam construído um pavilhão modesto, destinado aos serviços da igreja, cuja fundação iniciavam para difundir as mensagens da Boa Nova. A assistência aos pobres, entretanto, não dava tréguas ao labor das idéias evangélicas. Foi quando João considerou irrazoável que os discípulos diretos do Senhor menosprezassem a sementeira da palavra divina e despendessem todas as possibilidades de tempo no serviço do refeitório e das enfermarias, visto que, dia a dia, multiplicava o número de doentes e infelizes que recorriam aos seguidores de Jesus, como a última esperança para os seus casos particulares."

Trecho do livro de Paulo e Estevão, pelo Espírito de Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Vemos os centros espíritas de hoje como uma versão modernizada e institucionalizada daquilo que anteriormente, com muitas dificuldades, há 21 séculos, já era feito na Casa do Caminho, conforme descrição de Emmanuel no inigualável livro Paulo e Estevão, no final do cap.3 - Em Jerusalém.

As 12.290 casas espíritas1 desse nosso Brasil coração do mundo-pátria do evangelho, distribuem aos carentes do corpo: o pão e a sopa, o cobertor, a roupa e o sapato, a receita e o remédio, quando não até o lápis e a escola. Aos carentes do espírito, ou seja, a todos nós sem exceção, distribuem a sementeira da palavra divina, ou seja, o estudo da santificada doutrina espírita, alicerçada nos ensinamentos da Boa Nova de Jesus, além do acolhimento cristão.

Sejam elas de porte muito grande, com milhares de frequentadores semanais, dezenas de dirigentes, grande diversidade de palestrantes e médiuns, vários departamentos, ou de porte pequeno, feição modesta, às vezes com menos de cinco dirigentes, atendendo alguns dias da semana, apenas em horários específicos, com público reduzidíssimo, todas elas, sem exceção, copiam o mesmo modelo da Casa do Caminho de Pedro e seus companheiros de apostolado.

No Estado de São Paulo somos quase 4.000 casas espíritas; na cidade de São Paulo contam-se 1.075 entidades2, na região de atendimento atingida pela nossa USE LAPA, temos quase 30 centros espíritas.

Para uma média nacional de 4% de espíritas no Brasil, bairros como Perdizes, Lapa, Pompéia ostentam uma média altíssima de 10% de espíritas, enquanto que, em zonas desassistidas da periferia, como Brasilândia ou Francisco Morato essa média não é muito maior que zero3.

Não se trata aqui de fazer crescer o número de prosélitos do Espiritismo. Movimentos muito mais importantes, estruturados pela Espiritualidade maior, já trouxeram para nosso país espíritos especialíssimos, que se destacam dentre outros, espíritos da envergadura de um Emmanuel (Manoel da Nóbrega), Bezerra de Menezes, Batuíra, Francisco Cândido Xavier e outros.

Ultimamente, se olharmos exclusivamente para a missão de Chico Xavier, veremos talvez a razão de termos (segundo medições do IBGE), um crescimento de +70% de espíritas no Brasil, entre os Censos de 2000 e o de 2010. Por um lado por quase 8 décadas, os milhões de leitores de sua extensa obra mediúnica de cerca de 450 livros psicografados, mais os telespectadores dos 2 programas Pinga Fogo de 1971, que se multiplicam aos milhares de outros que hoje assistem em suas casas os DVDs daqueles dois programas magistrais.

Por outro lado, o que dizer do efeito avassalador de divulgação alcançado pelo cinema?

"O filme recente, de 2010, por ocasião do centenário de nascimento do Chico; os filmes sobre os livros "Nosso Lar" e "E a Vida continua"; o filme "As mães de Chico", em conjunto arrebataram cerca de 10 milhões de espectadores nas salas de cinema, muitos não espíritas que impactados pelo que viram ou que ouviram, chegaram em grandes proporções às casas espíritas. Igualzinho à narração de Emmanuel no trecho acima citado de "Paulo e Estevão", como a última esperança para os seus casos particulares."

Algumas casas espíritas de nossa USE LAPA já beiram aos 70 anos de vida, outras estão a meio caminho disso. Nenhuma delas, nenhum de seus dirigentes mais antigos, vivenciou a experiência dessa realidade recente, enfrentada nesses últimos três anos, de corrida popular em busca das casas espíritas. Os relatórios de atividades elaborados ao final do ano mostram claramente o crescimento dos números dos atendimentos.

É preciso, portanto capacitar mais e mais os dirigentes, os líderes, os voluntários, os funcionários, as equipes, os comitês. Além do conhecimento teórico-prático doutrinário, essencial a todos, técnicas que nos permitem dirigir reuniões, liderar pessoas ou trabalhos em grupo, técnicas de orçamento e contabilidade, conhecimento da legislação sobre as empresas do terceiro setor, intercâmbio entre dirigentes de casas próximas, técnicas de gestão, governança corporativa, são outros quesitos que ainda passam longe de muitas casas.

É preciso, igualmente, renovar as lideranças, porque espíritas também morrem, mudam-se, enfim, a presente encarnação nos apõe na pele de nosso corpo, como que um carimbo com a palavra "frágil". Em outras palavras, não poderemos nunca nos eternizar em nossos cargos e funções, daí a necessidade que todos, do presidente ao mais modesto auxiliar, tenhamos definido com a devida antecedência quem serão os nossos sucessores, e... capacitá-los continuadamente.

É preciso mais do que nunca repensar os espaços, muitas das vezes com restrições intransponíveis associadas às construções antigas, de mais de 50 anos, sem ventilação adequada, sem acessibilidade mínima para idosos e/ou cadeirantes, sem equipamentos adequados de projeção, sem biblioteca, sem livraria, com banheiros que trazem muito desconforto aos frequentadores.

As frases começando por "É preciso" poderiam alongar-se aqui, mas acreditamos que todas elas poderiam ser resumidas por mais uma única.

É preciso que os dirigentes das casas extrapolem os limites físicos de suas casas, de seu olhar, se sua área de interesse, de suas equipes, que tenham a curiosidade de conhecer a realidade das casas espíritas que lhe são vizinhas, que promovam enfim um intercâmbio constante e sério entre suas equipes de trabalho com as equipes de trabalho das casas espíritas que lhe são vizinhas.

Para isso existe a USE – União das Sociedades Espíritas.

Para isso serve a USE DISTRITAL LAPA, com seus encontros, reuniões de trabalho, reuniões do Conselho, seminários, eventos de integração, congressos, reuniões com órgãos governamentais, orientação e cursos os mais diversos, enfim, ações as mais diversas que ajudam a resolver as intrincadas frases começadas por "É preciso".

Dentro do lema "estreitando ainda mais... quem já está por perto" a USE LAPA está à sua disposição.

Procure o presidente e os diretores de sua entidade pessoalmente e pergunte-lhes como eles estão planejando resolver os desafios alinhados mais acima. Se eles responderem com o famoso "como assim?", ao invés de responder "pergunta lá no Posto Ipiranga", responda com segurança "pergunta lá na USE LAPA".

 

Ronaldo M. Lopes é voluntário desde 1980 do GRUPO ESPÍRITA BATUÍRA, sendo seu atual presidente. É também vice-presidente da USE LAPA desde 2010. É casado com Sonia J.Lopes desde 1972, ambos tem 7 filhos e 4 netos. ‘Seu e-mail é presidencia@geb.org.br

 

1 Essas informações estão disponíveis em uma pesquisa de Ivan Franzolim e do livro Análise do Mercado Editorial Espírita. Mythos Books, 2008 (acessar http://franzolim.blogspot.com.br/2012/09/quantidade-de-centros-espiritas-no.html)

2 Essas informações estão disponíveis em uma pesquisa de Ivan Franzolim e do livro Análise do Mercado Editorial Espírita. Mythos Books, 2008 (acessar http://franzolim.blogspot.com.br/2012/09/quantidade-de-centros-espiritas-no.html)

3 Censo 2010 - IBGE

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