"Nos Passos do Mestre" estreia dia 24 de março nas telonas
O diretor e roteirista André Marouço realizou com "Nos Passos do Mestre" o documentário filmado em Israel, Egito, Turquia, Itália e no Brasil. O longa apresenta dramatizações de trechos da vida de Jesus Cristo e de Allan Kardec, fundador do espiritismo, e mostra Jesus como um educador e pacifista por excelência. Pontos polêmicos são levantados sobre temas como a virgindade de Maria, as ressurreições de Lázaro e do próprio Jesus, e a "traição" de Judas.
Na exibição feita no dia 14 de março no Cinemark do Shopping Cidade de São Paulo para apoiadores do projeto, a repórter Cristina Braga conversou com o diretor André Marouço que também dirigiu "O Filme dos Espíritos" (2011) e "Causa e Efeito" (2014). O diretor também é frequentador do Centro Espírita Nosso Lar Casa André Luiz.
O que motivou a fazer um filme com essa temática?
André: Não podemos dizer que foi o acaso, porque ele não existe. Fomos procurados pelo amigo e psicólogo Adão Nonato que tinha um desejo antigo de ir aos territórios sagrados para palestrar sobre a vida e obra de Jesus. O desejo dele é que fosse em esperanto, então reunimos pessoas que tornassem isso uma possibilidade. Entendemos que podíamos adicionar a isso um documentário para filmar os locais mais significativos tanto do velho quanto do novo testamento. Fomos duas vezes aos territórios e o projeto foi gestado ao longo dos últimos sete anos.
Quais os pontos convergentes e divergentes sobre a vida de Jesus em relação à visão cristã tradicional?
André: O convergente é muito simples: Jesus é igual a amor; é o que creem os católicos, evangélicos – o maior pacifista que esteve na Terra. Marcou antes e depois d'Ele. O que diverge é que nós buscamos nos aproximar menos daquilo que a religião dizia e muito mais do que a história diz. O curador do documentário é o Professor Doutor Severino Celestino que leciona Ciências da Religião na Universidade Federal da Paraíba e estudou o hebraico. Ele defende, ao lado de outros estudiosos do velho e novo testamento, que os livros ditos sagrados, ao longo dos séculos, não só sofreram traduções tendenciosas, como foram tendenciosamente alterados. Buscamos então nos aproximar do que a história e o conhecimento da lei judaica trazem. Alguns trechos, por conta disso, podem chocar, mas nós temos a obrigação de passá-los tal qual a história aparece, como a Virgindade de Maria, Ressureição de Lázaro e do Cristo.
Judas não aparece como traidor?
André: Não acreditamos na traição de Judas. E, com isso, alguns pontos podem incomodar os religiosos, especialmente os católicos e os evangélicos. Embora esse não seja nosso intuito, não nos arvoramos como os donos da verdade. Queremos é dar nossa contribuição. Muito católico já filmou sobre Jesus, está na hora do espírita fazer sua versão dos fatos e as pessoas têm o direito de concordar ou discordar. É o livre pensador.
Como conseguiu captar recursos ao longo dos 7 anos?
André: Graças a Deus, até hoje, só uma das nossas obras contou com aporte do recurso das leis de incentivo. No geral, nossos filmes não precisariam do dinheiro do imposto. Conseguimos realizar nossos filmes por meio dos espíritas. Todos os anteriores e este especialmente. Para "Nos Passos do Mestre", lançamos uma ferramenta de crowdfunding (financiamento coletivo) pela Internet. Mais de 900 espíritas entenderam que a mensagem precisa ser divulgada, nos auxiliaram e, assim, demos conta do recado. Com esse método, captamos R$120 mil, mas contamos com recursos capitaneados ao longo do tempo de empresários espíritas do próprio aporte da FEAL (Fundação Espírita André Luiz) que conta com parque tecnológico e recursos humanos capacitados para fazer tevê. Em termos de grandeza, é uma peça com custo geral de R$ 600 mil mais ou menos.
Como você dividiu as locações?
André: Fomos duas vezes aos territórios sagrados. A primeira em 2009 (Israel e Egito); em 2013 (Israel, Egito, Turquia e na Itália) com só captação de imagem e de alguns depoimentos. De volta para o Brasil, trabalhamos no roteiro do filme, na contação da história, e as filmagens com os atores foram feitas aqui no Estado de São Paulo.
Os seus outros dois filmes complementam esse?
André: Eu diria que se apoia na tríade espírita: ciência, filosofia e religião. "O Filme dos Espíritos" trata da obra basilar da Doutrina Espírita que é o "Livro do Espíritos" e conta a história de um psiquiatra que vai se matar, descobre o livro e há todo um desenrolar da trama. O segundo é "Causa e Efeito" que explica o mecanismo por meio da racionalidade da tríade, e esse que é o "docudrama", documentário com dramatizações.
O filme com temática espírita ou baseado em obras consagradas é uma tendência na cinematografia?
André: Não sei dizer se é tendência, mas o fato é que, desde 2006, com o filme sobre Bezerra de Menezes, temos uma produção cinematográfica espírita, de quando em quando, bem recebida pelo público. Cinema é um negócio. À medida que a indústria vir isso como filão que pode e deve ser coberto naturalmente, ocorrerão mais filmes. Pessoalmente, creio que é uma excelente forma de divulgar a Doutrina e os espíritos superiores vão se valer disso. Assim como o Espiritismo começou no século 19 por meio do fenômeno conhecido como mesas girantes, hoje os microfones e câmeras para os espíritos são a mesa da vez.
Acesse o site oficial do filme: http://nospassosdomestreofilme.com.br
Facebook: www.facebook.com/DocNosPassosDoMestre/
• Cristina Braga é jornalista e frequenta a Sociedade de Estudos Espíritas 3 de Outubro.
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